quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

De Pernas Bambas

Hoje eu me perguntei o que era felicidade. Não porque estava infeliz, e tentava achar a chave para ela. Mas porque, em resposta a um questionamento de um amigo, me permitir pensar no assunto. Pensei sobre suas palavras, que se referiam a um padrão contínuo de acontecimento biológicos que nos permitiam ou não sentir felicidade. Padrões esses que, invariavelmente, tecem a teia das motivações humanas na conquista da vida ideal.

Mas, ao pensar sobre isso, questiono-me onde reside a felicidade, e não o que seria ela. Difícil defini-la, é verdade. Por isso, apurei minha lente e tentei entender os acontecimentos que me fazem feliz. Descobri, só pra deixar logo claro, que o mais curioso para mim não é o que seria a felicidade dentro desse mundo visível e material. Antes, é a misteriosa lei da natureza-indescritiva e substanciosa- que me deixa com os pensamentos aflorados. São as forças que motivam nossos padrões biológicos, é a imparidade existente no sentimento humano, e é, sobretudo, a grande casualidade dos encontros da vida. Vejo a felicidade quando me pergunto: porque te amo, e não amo o outro ao lado? Porque esse sentimento cresce e é nutrido pela vivência entre nós? Porque ele não acaba?

Mas felicidade também está na amplitude da vida, na pluralidade que ela oferece. Felicidade está em eu poder definir, para mim mesmo, e não para você, o que me traz boas doses de serotonina, o que me embriaga, e para você talvez não faça a mínima diferença, e isso pouco importar para ambos.

Há pouco pude sentir outras forma de felicidade, pude percebê-la em outros lugares. Em outras pessoas, pessoas que mal conheço. Elas têm me trazido muita felicidade. Pude sentir a natureza, como ela é contagiante e ousada. Ela trouxe pra mim um visual esplendoroso de misturas. Nessa natureza pude ficar estremecido, fui atraído, magnetizado, fragilizado. Sua aparência me deu medo, porque a quis para sempre, e mais medo pude sentir quando vi que a felicidade estava em absoluto ali e que, desesperado por te-la naquele momento, não teria medo de de me juntar a ela para sempre.

Ainda sobre a natureza, a Chapada Diamantina me fez pensar sobre o que de fato é meu mundo, e como ele andas das pernas. Descobri que algo está errado, e que eu não sei dedilhar os fatos que cerca a maneira como tudo está. Me sinto feliz por saber disso, mas me sinto triste também por isso existir. Continuarei como estou, sempre tentando descobri valores em tudo. Talvez não seja uma boa forma de levar as coisas, mas faz parte de minha percepção essas análises de valores- infelizmente.

Pretendo, desde já, entrar mais em sintonia com o eco da natureza. Tentarei ouvir daqui, o que a Chapada tem para me dizer, principalmente a noite, quando o silêncio ,que já é soberano lá, deixar eu ouvir os gritos da natureza, atraente como sempre, simples e complexa, cheia de ternura e de felicidade, trazendo ao meu mundo uma alternativa impessoal. Tentarei sentir essa energia, essa "vibe". Dentro da confusão da cidade, vou buscar essa frequência cotidianamente.

Talvez isso mexa comigo, me permita novas interações biológicas, novas emoções. Queria não ver as mudanças das pessoas, mas não me deixarei cair com essas mudanças. Não vou desistir delas, porque sei que são parte fundamental de mim, mas darei um tempo para que a natureza dentro de nós se reestabeleça, porque sei que ela está um tanto desgastada. Mas farei questão de olhar mais para os outros lados, ouvir mais outras vozes e tocar outras mãos. Imagino que tudo isso me fará bem, mas devo admitir o receio e a fragilidade em relação ao novo. Mas o novo, o mesmo novo que me dá medo, também me encoraja e me sensibiliza nesse mundo de pessoas e lugares.

P.S.: Preciso escrever sobre algumas pessoas em especial. Não sei quando farei isso.

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Fitas.


"All these tapes in my head swirl around
Keeping my vibe down
All these thoughts in my head aren't my own
Wreaking havoc"
-Tapes. Alanis Morissette.
Falávamos sobre como muitas coisas haviam mudado. Mais que isso: a velocidade com que tudo havia mudado. Algo nesse dia nos fez lembrar de como as coisas eram, e de como elas nos serviam.
A música que ouvíamos saia de um toca-fitas; era de qualidade inferior. Mas as fitas guardavam em si mesmas tudo que queríamos ouvir... era passando uma música por cima da outra, sem o mínimo de dó das que não aquentávamos mais ouvir. O passado era apagado, e praticamente irrecuperável. Quando havia algum valor, pelo mínimo que fosse, era preciso pensar muito antes de abandonar aquela letra de difícil acesso. Letra que possivelmente fora tirada do rádio, letra que perdemos o início, porque não chegamos a tempo, letra que era marcada com um "TAP" no início e outro no final...letra muito, mas muito delineada em seus significados.
Tudo que passamos tem sido diferente do que foi um dia. Somos os mesmos, mas um pouco mais doces e um pouco mais bárbaros. Não precisamos mais pensar tanto sobre o que tem relevância, apenas vivemos conforme o que já havíamos ditado. Nos sentimos mais frágeis, porque não temos mais fitas para passar por cima as coisas que já não são mais tão boas de se ouvir. Já não pensamos mais sobre tudo ao nosso redor, nem em como selecionar as mais importantes para ouvir. Hoje temos a capacidade de armazenar tudo. Crescemos e aumentamos nossos "bits" de memória para as coisas do mundo. São tantas coisas, e mesmo assim sabemos de todas elas, ouvimos todas elas e nunca as apagamos... o que nos livra da culpa e da injustiça de apagar o que não nos serve... mas também não nos obriga a delinear bem a música que está tocando, a que nos movimenta, nos impulsiona. Na verdade, deixamos de ser tão seletivos. E as coisas deixam de ser tão raras... as letras já não são tão importantes, porque elas podem ser recuperadas. Elas também são todas iguais, porque já não há "TAPs" que as individualizem e nos deixem felizes por termos conseguidos mais ou menos da música que acabou de começar no rádio. Todas são completas nos nossos novos aparelhos eletrônicos.
Assim são todas as pessoas que nos preenchem igualmente, que não têm cicatrizes que determinem onde elas começam e onde elas terminam para a gente. Elas apenas estão lá, e sempre que precisam ser repetidas, as buscamos com uma certa dificuldade em uma grande pasta de dados. Quando guardávamos nossas músicas em nossas fitas, sabíamos o local exato onde a música estava. Rodávamos um pouco para frente, um pouco para traz... mas enfim as achávamos. Errávamos duas ou três vezes, mas não mais que isso. Sabíamos que estavam ali. E dependiam apenas da gente para que continuassem ou não sendo tocadas. Era a dificuldade de achá-las no rádio que as faziam tão especiais. E, acima de tudo, eram seus defeitos, seus "TAPs", que as deixavam com nossa cara. Eram suas digitais. Nenhuma música em nossa fita era igual a mesma música na fita de outra pessoa. Era isso que nos deixava mais íntimos delas, pois só nós sabíamos como ouvi-las e onde achá-las. Ninguém mais saberia fazer isso. E assim são nossas pessoa de hoje, que aos poucos têm mudado, têm se tornado iguais e já não demarcam tanto seus espaços.
Falávamos sobre como muitas coisas haviam mudado. Algo nesse dia nos fez lembrar de como as coisas eram, e de como elas nos serviam. Algo que ainda temos, pessoas que tocam em minha cabeça, pessoas que não podem ser apagadas, porque só tocaram uma única vez no rádio. Pessoas que possuem um bom começo e um bom fim...bem delineadas, incompletas e, sobretudo, únicas.