sexta-feira, 5 de junho de 2009

Anti-hiato criativo.

Sexta-feira, 5 de Julho de 2009.
Praça de alimentação(3° piso), Iguatemi.

Daqui de onde estou vejo milhares de pessoas. Não sei porque, mas uma das coisas que mais me agradam é observá-las. Olhar como se vestem, como se comportam, tentando imaginar para onde vão, ou quem com quem vão se encontrar. Não acredito que minhas suposições estejam certas, mas criar uma vida, por mais instantâneo que seja, para cada uma dessas pessoas me faz sentir vontade de ficar parado, inconsciente de mim, transparente talvez.

Por vezes imaginei, como certa credibilidade até, que algumas pessoas existiam apenas por instantes, para que não houvesse um vazio perceptível aos olhos meus. À elas seriam dadas memórias e sentimentos que contemplassem a necessidade do instante em que eu vivia. Contudo, eu desconfiava das duplicatas, quando, por vezes, os anti-hiatos criativos eram repetidos e, por algum motivo, eu percebia a falha envolvida nisso. Não era apenas eu que percebia tal fato, pois tinham pessoas ao meu lado que já haviam se deparado com as duplicatas. Naquela época, quando ainda me sentia sensível ao ponto de perceber tais abstrações, mesmo que por devaneio, via-me capaz de ir mais além. Além do que meus olhos viam, ou meu tato tocava.

Hoje, quando me vejo diante de tantas loucuras cotidianas, penso( e agora sei não é verdade) que os grandes erros, ou o que eu chamei de duplicatas, não estão mais presentes, ou que já não se comete erros lá no "lugar donde as coisas chegam". Mas a verdade é que não consigo mais perceber, ao menos não sozinho, tudo que está além do material, além do obviamente perceptível (mantendo um padrão mínimo para isso, claro!). Não consigo ver, agora, a belíssima falha perpétua aos hiatos criativos desesperadamente corrigidos por "eles".

terça-feira, 2 de junho de 2009

Saindo do Armário.


Viver honestamente talvez seja a coisa mais difícil que exista. Pergunto-me sempre se as pessoas com quem convivo estão falando a verdade. Não que haja sempre a necessidade de que alguma coisa seja dita, mas calar-se diante do que efetivamente deseja é de tamanha ingenuidade, que sinto pena dos que se disfarçam nos trejeitos, nas roupas, na voz, até mesmo nos pensamentos. Esses últimos, talvez, sejam os que mais mereçam tal pena. Mas eu entendo, até certo ponto, como as coisas são. Vejo que olhar para si e enxergar algo que não queria ver deve ser deveras desgostoso. Mas eu teria semelhante ingenuidade se julgasse fácil ser livre. Jamais negaria a inconveniente trajetória humana que sublinhou, pois em negrito e em itálico as palavras Mulher, Gay, Negro e Velho. Todos bem marcados pelo preconceito de "ser", meramente ser... Deve ser ruim ser mulher, negro, velho, gay...quem sabe até feio. Quem sabe uma divina combinação de duas ou três dessas"formas de ser". Quem sabe ser tudo isso, e não poder ser nada disso... Ai eu penso qual o propósito disso tudo, ou qual seria o sentido de privar um cara de continuar sendo um cara, apenas porque ele prefere beijar outro cara. É óbvio que eu não entendo! Como poderia eu entender o significado disso? Na verdade eu poderia traçar um roteiro: tudo começa quando nós esquecemos(não me pergunte como) que nossa expectativa de vida é de cerca de 77 anos; depois, numa ridícula tentativa de viver melhor, criamos 357 milhões de padrões para viver. A terceira loucura humana é: vivemos nossas vidas procurando quem não se encaixa em nenhuma dessas 357 milhões de "formas de ser". Daí, sem o mínimo de escrúpulo, encontramos essas pessoas, caçamos elas, e fazemos com que escondam suas verdades. Nunca nos perguntamos o porquê de um indivíduo, que tinha 357 milhões de formas de ser, resolveu "escolher" ser gay. Bom, eu diria: talvez ele não tenha escolhido isso. Talvez God tenha feito ele dessa forma. Crueldade de God!

"Bom Filho, você nascerá e ,aos 12 ou 13 anos, sentirá uma "incontível" ansiedade de ser mais do que o mundo lhe permite ser. Você é especial por isso... Mas, para você não ficar se achando, escreverei um livro pra mandar a galera te caçar, porque ai, você se esconde, fica bem quietinho num armário, pra ninguém se sentir inferior a você. Espero que um dia você Me entenda filho... mas isso é necessário" ...e assim God criou o primeiro Gay.

Como se não fosse suficiente, ele também criou os velhos, os negros...caramba!!!, até as mulheres. Para que? Pra ser tão superior que causaria inveja? Ingenuidade minha afirmar isso.

É bem verdade que todos têm um pezinho dentro do armário, disso eu não tenho dúvida. Mas tem algumas coisas que nos fazem ter orgulho: mesmo afirmando não ter preconceitos, dentro de nós há um imenso alívio por não ser um coisa ou outra. É preciso muita corajem para ser transparente. Tudo bem, as coisas estão mudando, está havendo mais tolerância. Hahaha. Tolerância é última coisa do mundo que eu precisaria caso("mas só se CASO") eu te tivesse alguma coisa para esconder.

Tudo isso porque eu vi um filme, e achei que algo em mim precisava mudar.(Eu e minhas constantes mudanças). Mas isso é sério: não vejo muita graça em mentir. Quero mesmo, desde já, é mostrar como eu sou, estar com quem eu quero estar, e fazer o que e quero fazer... Eu não consigo expressar direito o que eu estou sentindo agora não, mas é mais ou menos assim: A partir de amanhã, tomara que ninguém me obrigue a me comportar de alguma outra forma, que não a forma mais natural de ser do mundo pra mim. Bom, algumas coisas foram facilitadas no meu caso. Eu acabei encontrando pessoas que me deixam ser real. Outras não, é verdade! Mas algumas delas, que acham que sabem de mim a fundo, saberão, aos poucos, que eu estou pronto para ser, e, como já diria alguém que teve a felicidade de proferir tais palavras, " estou pronto para "curtir minha existência".